quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Travas de Deus!

Estava passando em frente a uma igreja, quando de repente ouvi:

- Você que usa essa blusa coladinha Dolce Gabana, esses óculos de sol Channel, essa bolsa de couro da Prada e esse sapato de salto da Cramen Steffens. Mostre que você teme ao senhor e coloque suas ofertas no altar.

Fiquei loka! O pastor havia me descrevido por inteira. Olhei pra cima. Tinha uma placa escrita: Igreja Universal das Travas de Deus. Fiquei surpresa com tamanha ousadia e me perguntei: “Desde quando existe travesti religiosa, gentem?”.



Mesmo assim, decidi entrar na igreja e ver do que se tratava. Quando cheguei lá, vi um monte de travesti reunida com as mãos pro alto. A cena era bem estranha. As travas estavam usando aqueles vestidos longos, para não mostrar o contorno do corpo, que o silicone havia lhes dado.

- Se desfaça dos bens materiais, irmã. Coloque no altar toda a artificialidade do seu corpo.

Olhei prum lado, olhei pro outro. Todo mundo estava me olhando. Sem graça, eu disse: “Só passei aqui por uma acaso, mas já estou saindo.

- NÃOOO, irmã... como é seu nome?, perguntou o pastor.
- Bunita.
- Não vá, irmã bunita. Deixe o senhor te livrar dessa vida leviana, dos cremes da Loreal, dos hidrantes da Alpha parfi. A sua vida de Stefhani pode acabar agora mesmo.
- O que?!!! Eu vou embora agora mesmo! Não sou ninguém sem as minha griffes. Desaquenda pastor!

E percebi que no altar estavam dezenas de roupas, jóias, produtos estéticos e perucas importadas. Então me dei conta que aquelas travas estavam perdendo a vida lushuosa que tinham pra se dedicarem à igreja. Resolvi dar o grito:

- Amigas, vocês acreditam mesmo que vivendo sem seu Armani ou sem a tecnologia da escova progressiva vocês serão alguém melhor? Trava feliz é trava que aquenda, quiridas! Deixa essa maricona desse pastor pra lá e vamos fazer nossa Parada Gay em Valadares, fias!!!

Fez-se um silêncio! Naquele momento pensei que iria ser crucificada ali no altar da igreja. Mas eis que todas as travas levantaram-se dos seus acentos, foram em direção às ofertas e recolheram tudo o que tinham colocado lá. Aí, foi uma bagunça só. Um monte de trava se vestindo, se maquiando, até que chegaram pra mim e disseram.

- Estamos prontas, bunita!
- Arrasaram negas. Agora só precisamos de um grito de guerra. Repitam comigo: “Viva a neka!”.
- Viva a neka!
- Viva as griffes!
- Viva as griffes!
- Viva os cafuçús!......

E saímos todas pela avenida Brasil gritando e fazendo uma revolução jamais vista antes nessa cidade. A Parada das travestis da Igreja Universal das Travas de Deus.

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