. . . - Bunita em Braile - . - -

Boa tarde, queridas Bunitas.

Hoje, temos mais um post especial. Por causa de um congestionamento na caixa de emails das Bunitas, elas tiveram que me convidar pra postar alguma coisa. Sim, sou eu: Kátia Cega, Fia. Não sabe quem eu sou? Não sabe quem eu fui? Não sabe o que represento? Ah, joga no Google porque eu não mereço! Vou enfiar minha bengala de cega, vocês sabem aonde, fiadaputas!

Pois é. Minha história é um peido, sabe? Nem eu lembro direito se eu nasci cega ou se foi com o tempo, afinal minha mãe escreveu tudo no diário com caneta Bic, e não é em braile. Então sempre peço para alguém ler; porém minha mãe era loira, vesga e pobre. Resumindo: meu pequeno diário é motivo de estudo pelos lingüistas da Unicamp há tempos. Próximo assunto!

Eu fui descoberta pelo rei. Não, fiadaputa, não é o Ray Charles, não. É o Reiberto Carlos. Isso, aquele que se veste de pai de santo em todos os shows. Ele me viu fazendo uma interpretação às cegas de “Fui no Tororó”, chorou e bancou o lançamento do meu primeiro disco de vinil em 72 rotações, em 1913.

Meu maior sucesso é a música “Não está sendo fácil”, e, mesmo eu não falando sobre minha cegueira, a música é uma clara homenagem a ela. É sim! Imagina o quanto que é fácil não saber onde passar o papel depois de cagar, ouvir seus amigos te perguntando “como você conseguiu me ver aqui?”, ou “olha lá que bofinho nekudo!” Isso não pode!

Avançando mais um pouco no tempo, quando comecei a aparecer na televisão, lembro-me da comoção que eu causava. Todo mundo ligava para o programa em que eu estava cantando, dizendo “Eu quero doar mil cruzeiros para o Teleton!”. Como eu acabava criando um congestionamento nas linhas telefônicas da emissora, eles me pediam para eu perder de vista o caminho da empresa de TV.

E foi assim que eu comecei a fazer shows em praças, ruas e faculdades, até o dia em que, depois que terminei o show, todas as 10 mil pessoas que estavam presentes resolveram jogar moedinhas pra ceguinha cantora. Assim, fiquei em coma durante alguns dias.

Porém, eu ainda enxergo o futuro. Não sei como enxergo, mas que eu vejo, eu vejo. E assim, há alguns meses, mudei meu visual, saindo dos mullets e ficando uma mistura de Renata Sorrah e Zizi Possi. Estou lançando meu sonhado “Greatest Hits – As 20 melhores”. Todo mundo me perguntou aonde, como e quando eu tinha gravado 20 músicas, mas isso não me abalou, afinal, hoje sou referência em dissimulação (“Vou bancar a Kátia Cega e nem vou vê-lo!”) e mentira (–“Você me acha bonito?” –“Lógico!”).

Lancei minha linha de óculos escuros, e mesmo não tendo visto como eles ficaram, sei que ficaram m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o-s! Um lusho! E para as minhas amigas de profissão, eu escrevo:

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Tenho um recado do fundinho do meu coração: Abram seus olhos, Fias. Gays são gente, cuidam de suas vidas e ser feliz como qualquer um: heterossexual, cegos, mulheres, crianças... Parem de bancar a Kátia Cega pra a vida. Ouvi dizer que vocês valadarenses são um tanto quanto mafiosos, não prestigiam nada, não ajudam ninguém e só reclamam quando não tem nada.

Gente, eu vejo que vocês são lindos, finos, fechativos e que sabem aproveitar tudo! Pára (ainda não lançaram nenhum livro em braile das novas regras de português) com isso de ficar bancando a phina, sem ser e, pelo amor de Stevie Wonder, vão se jogar! Ser cego funcional é uó; é um koo com hemorróida. Ou vocês param de bancar o Stevie Wonder ou vão ficar igual àqueles burros de carga, com uma viseira tapando seus horizontes! Sou cega, mas sou digna!

Assim, Bunitas, tenho que agradecer vocês por deixarem eu escrever alguma coisa. Agora muitos outros saberão de minha história e de meus sucessos. No Orkut, no Gmail, no Facebook e em outros sites, roubaram meu perfil e eu não vi quem foi o autor de tal delito. Mas queria deixar uns links pra vídeos e músicas minhas, mas até hoje não consegui saber como faço para deixar coisas em braile no monitor...

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Logo abaixo estão algumas coisas que estou ouvindo. São músicas do Roberto Carlos, do Pepeu Gomes e da Banda Calypso.

Beijos visionários para todas!

(OBS.: CHENTCHY, NÓS, LOGICAMENTE, BOTAMOS OUTRAS MÚSICAS BATE-CABELO AQUI, NÉAM? ELA NÃO PODE LER MESMO. CONTA VOCÊ VÊ EU PÔR FOGO NA SUA PERUCA!)

Salomé de Bahia – Outro Lugar

Deborah Cox – Beautiful U R (Gabi Newman Club Remix)

Offer Nissim – Love Me (Original Mix)