Tinha apenas 10 anos, mas já falava com a voz fina e também amedrontada. Talvez por saber que seu pai não o aceitaria. O pai era alcoólatra, chegava em casa bêbado todas as noites, deixava o dinheiro de comprar pão em cima do balcão do bar. Sua mãe era tradicional, aprendera que jamais devia questionar a atitude do marido. Ele batia nela e ameaçava os filhos.
Certo dia a criança resolveu ir à loja, passou em frente à vitrine e admirou uma boneca da Barbie. Um moço que passava ali lhe ofereceu o brinquedo em troca de uma visita à sua casa. Lá foi ele, com a boneca em baixo dos braços, um sorriso no rosto. A outra mão segurava a mão do novo "amigo".
Ele pediu que entrasse, ele entrou; pediu que se assentasse, assentou; disse meias palavras, ele ouviu; e então pediu que tirasse a roupa; ele suplicou: “Não moço, não me machuque”. Aquele universo de violência familiar havia lhe deixado tantas marcas.
- Não, não vou lhe machucar. Só quero ver seu corpo.
- O senhor tem alguma coisa pra comer aqui?
O moço calou-se por um instante
- Espere, vou pegar... Gosta de leite?
- Sim, gosto - disse faminto.
Comeu até saciar e voltaram pro início. Aquele foi o primeiro abuso que sofrera. Voltou pra casa chorando. A mãe quis saber o que era, mas ela não entenderia. O pai nem em casa estava mais. Ninguém nem tinha dado por sua falta.
Então, depois de um tempo sentiu falta. Foi pro sinal da Prudente de Morais com a avenida Minas Gerais. Sua voz, aliada a seu jeito de andar e seu rosto extremamente delicado lhe fizeram entrar em vários carros por aí.
Cresceu assim, meio que alheio às responsabilidades, educação e trabalho. Com 12 anos já tomava hormônio feminino pra afinar a voz. Ficou bonito, com um corpo atraente. Mudou de nome. Virou Jhenifer.
A essas alturas já não morava mais em casa. Seu pai lhe garantiu que se pisasse o pé de novo no bairro, lhe matava. E matava mesmo. Por isso foi morar com uma amiga. E foi feliz durante algum tempo.
Mas um dia, como num desses qualquer, foi atender um cliente. O cara tinha o rosto franzido, aparentando um certo mau-humor. “Entra aí”, foi a única coisa que disse.
- O senhor é daqui.
- Cala a boca, faz só o que mandar.
No hotel, lhe calou com a genital . Nunca tinha passado por aquilo antes, não daquele jeito. Sua vida nunca mais seria a mesma. Com a ajuda da amiga tornou-se travesti. Tinha seios e tudo. Não era escolha sua, mas o que fazer se você tem a voz afeminada, nunca trabalhou e rebola enquanto anda, mesmo sem querer?
O cara ficava lá, toda noite. Se a via entrando no carro de alguém, a esperava voltar e lhe batia no canto da rua Prudente de Morais, bem escondidinho. Ela havia crescido apanhando calada, por isso nãos sabia se defender.
Dois anos se passaram, ela agüentou aquilo. Até que numa daquelas noites quentes de Valadares, resolveu dar um fim naquilo. Seguiu o conselho da amiga e colocou a gilete debaixo da língua. E lá veio o cara, como que mandado pelo diabo; deu-lhe o primeiro bofetão, ela se lembrou do ódio com que seu pai batia na mãe e cortou o rosto do moço, depois o pulso e depois o pescoço.
A polícia chegou 15 minutos depois. Ela estava lá parada, sentada no meio fio chorando. O que fizera? Que ato ordinário para alguém tão delicado?
Assumiu o crime. Não tinha estruturas emocionais pra mentir. Foi pra cadeia e lá virou mulher de bandido, literalmente. Claro, depois de passar em algumas mãos.
Já cumpriu metade da sua pena, mas não lhe interessa sair de lá. Afinal, lá dentro ela é casada, tem comida de graça, tem onde dormir e se diverti com as outras travestis da cadeia. Ou será que é porque ela descobriu que é portadora do HIV e nem sabe o que faria do lado de fora da prisão? Não sabe onde estão seus pais.
Da próxima vez em que ver um menininho franzido e com a voz afeminada por aí, tome bastante cuidado antes de lhe dirigir expressões como “viadinho”, “pintosinha”, “esse não escapa”. Ele pode ainda estar tentando se descobrir, mas não precisa da sua influência pra isso.
Jhenifers existem aos montes, e estão por aí tentando reconstruir o que resta de suas vidas. Não as discrimine. Você não sabe o “tanto que elas caminharam pra chegar onde estão”. E ainda bem que não.
É provado cientificamente que a pressão psicológica que a sociedade exerce sobre a criança, a influencia pro resto da vida. Talvez Jhenifer não quisesse ser travesti, ou talvez sim, mas sempre a fizeram acreditar que ela era mulher, fazendo insinuações. Sempre abusaram sexualmente dela, fazendo-a acreditar que era passiva. Quando se é criança e afeminada, o que tem de marmanjo doido pra descer a vara não é brincadeira.
Jamais discrimine! Apoie sempre!
DJ Igor Zanonn Ft. Zhana Saunders - Leave It All Behind (Yaron Knochen Remix)
Offer Nissim Feat. Symphony X - I Close My Eyes (Original Mix)
Gilad M Feat. Nadav Cohen - Ad She Tazvi (Adi Perez 09' Remix)
segunda-feira, 2 de março de 2009
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7 comentários:
Bunitas, tem dois links quebrados no post de hoje, e eu adoro as músicas que vocês postam aqui. Resolvam aí, por favor. Bjoss
Prontinho bunitinha.
Problema resolvido. Se joga, Fia!!!!!!!
Bjux
Ai Fia,
pra que c ixcluiu o coment moça?? Todo mundo já tava molhadinho pra ler. hahahaha. Bjoss
Gente!, Parece minha história ... Tô com 26 anos e ainda não sou trava...
A maioria da biluzada foi abusada sexualmente na infância... O que isso tem em comum com a homossexualidade?
Ai, gente, haja padê pra tulerar o post neo-dramático, né?
Sabe, bicha gosta é de neka...quando vem alguma coisa sobre direitos, histórias, problemas "gays", elas viram a cara e fingem que não é com elas...Como se ser gay fosse só empinar o cú para uma neka.....
Ai, a população fica igual essa daqui de GV: desinformada, preconceituosa, medrosa e sem evolução alguma.
Bichas valadarenses, parem de reclamar! Saiam do MSN e do bate-papo da UOL e façam uma revolução! Não esperem nada das conas indignas que por aqui habitam (elas já sofreram tanto que hoje querem gozar com as drag(ão) novas!) e não esperem que nós viremos algo socialmente "Normal" sem fazer nada....Pára de ficar fazendo seu vizinho, indo na Monalisa ficar onlhando mala e andar igual bofe...Porque a revolução é a gente que faz, meu bem! Aposto que todas que sairem do bate-papo por 10 minutos e se encontrarem com amigos num bar, as coisas melhoram e surgem conversas ssns!...
Bonitas, tipo, acho tudo essa consciencia que vocês dão para as bichas valadarenses, mas parem de jogar pérolas aos porcos, porque, enquanto elas continuarem a ser bichas de sábado (de quinta são as bichas de Ipatinga, meu bem, aqui é pior ainda), elas teram essa vidinha u ó e fake que elas merecem.
Quando elas acharem a luz, elas verão o tanto que é bom...E a luz que elas acham, é, no máximo, o luz do fim do túnel da estrada de ferro pra BH...
BICHAS DE GV, SEJAMOS DIGNAS E VAMOS NOS UNIR, SENÃO, PÁREM DE RECLAMAR E DEIXE GV VIRAR UMA CIDADE COMO ALGUMA COISA MARANHENSE, MEU BEM. ONDE O MÁXIMO DA DIVERSÃO É O CINEMA AMBULANTE DO GOVERNO FEDERAL E O AÇÃO CIDADANIA, DA GLOBO.
Florita, gata!
Arrasou no coment, fia, como sempre!
Mas olha, se não acreditarmos numa mudança de comportamento social, jamais atingiremos uma mudança cultural, incluindo as festas.
Além disso, nega, tem muito hetero nesse recinto. Eles leem o blog religiosamente, mais que as bees. Recebemos cada email, meu bem, que ficamos com o edi espremido. Gente da alta. Hahahaha.
Não é dificil também entender sobre o que o post fala. Basta um pouco menos de taba na cabeça. E muita bilú se viu em algum momento da história.
Bjo no seu edi inteligente, gata!
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