segunda-feira, 11 de maio de 2009

A volta ao back!


Antes de começar, gostaria de deixar claro que este não é um texto de apologia ao uso de drogas. De uma forma realista, abordaremos o uso destes elementos no gueto LGBT de Governador Valadares.

“Onde tem gay tem droga”. Uma vez eu ouvi esta frase de uma pessoa muito influente no meio gay de Valadares. Não sabia como responder, afinal, nas festas que vou, sempre vejo gays usando drogas... a prima Vera (maconha), o tio Paulo Otávio(cocaína) e, me perdoem por não saber os apelidos que levam o crack, lança perfume, loló, êxtase e outras, que, diga-se de passagem, são raras nestas festas.

Já precisei ir ao banheiro no meio da festa e de lá saírem dois ou três fungando o nariz sob o visível efeito da cocaína. Já senti o cheiro de maconha próximo à pista de dança enquanto dançava e já tive que sair de perto porque não conseguia respirar. Também tem aqueles que discretamente vão até seus carros e utilizam a droga por lá mesmo. Pra estes, pela discrição, eu tiro meu chapéu.

Não há como e nem porque barrar o uso de drogas nas festas GLS, assim como não há como impedir o consumo de drogas no mundo. O tráfego você pára, o tráfico, é impossível. Além disso, cada um tem o direito de fazer o que quiser da sua vida, desde que não prejudique a liberdade do outro. Isto é democracia.


















Mas dá pena ver, por exemplo, a situação de gays entre os 16 e 22 anos, que não trabalham, largaram os estudos, não são de uma família economicamente privilegiada, e mesmo assim, caem no mundo das drogas. Normalmente, eles não têm recursos para sustentar seu vício e é bem grande a possibilidade de que os mesmos vão se endividar com os reis do tráfico e colocar sua vida em risco.

Eu me recordo bem o dia em que um grande amigo meu se virou e disse: “Usei Paulo Otávio ontem”. Fiquei sem reação na hora, porque nunca tive coragem suficiente pra isso, mesmo tendo oportunidade. É sempre muito engraçado falar sobre drogas, não é? Mas quando isso acontece próximo da gente, a graça ironicamente se transforma em angústia.

Valadares já foi considerada a 4ª no País no ranking do tráfico de drogas, atrás apenas de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. E realmente não dá pra entender como os gays daqui vivem numa boa com seus direitos sendo negados.

Se você passar uma vez por semana na Praça dos Pioneiros, vai encontrar por lá entidades e até mesmo o Poder Público fazendo alguma campanha, seja pela Lei Maria da Penha, contra a leishmaniose, contra a exploração sexual de crianças e adolecentes, blá blá blá.

São todas de extrema importância, voltadas para um público específico. O que acontece é que ninguém pensa nos gays, lésbicas, travestis e transgênicos dessa cidade, que se afundam nas drogas desde a ADOLESCÊNCIA, que transam sem camisinha e contraem DSTs por não terem informações suficientes sobre o assunto. NÃO EXISTE PARTICIPAÇÃO DO PODER PÚBLICO NA VIDA DOS GAYS EM VALADARES. Eles simplesmente figem que isso não existe, ignoram.

Não existem campanhas específicas pra este público. A Polícia Militar não faz (claro, por ser uma instituição um tanto quanto homofóbica), a Prefeitura Municipal não faz (gays provavelmente não vão render tantos votos e podem queimar o filme, apesar de terem sido grande parte dos que elegeram a atual prefeita), não existe entidade de defesa dos direitos dos homoafetivos em Valadares (ninguém se habilita, preferem fazer festas GLS, porque num mundo capitalista como o nosso, o que dá lucro sempre tem vez).

Quando dissemos em posts anteriores que queremos nossa Parada Gay neste ano, é porque isso representa o nosso anseio de liberdade, de aparecermos nos quatro cantos da cidade, de usar a mídia e dizermos “Olha, estamos aqui, existimos e queremos os mesmos direitos que vocês”.

Não duvidem, caras autoridades, se tantos gays se afundam todos os dias no mundo das drogas, grande parte da responsabilidade é de vocês, que deveriam lutar pelo direito desses indivíduos, os quais estão garantidos pela Constituição Federal. E grande parte do que leva os gays a iniciarem nas drogas é a sensação profunda de solidão em saberem que sua condição afetiva não é aceita pela sociedade, e que podem sofrer alguma repressão da sociedade. Mas isso é um assunto bem mais complexo pra este post.







Não queremos tornar o mundo gay. Queremos apenas que seja reconhecida a sua diversidade.

4 comentários:

Caras&Bocas disse...

Bunitas, ahasaram novamente !
Parabens !

Rehab disse...

Informação + crítica + coragem de falar + verdades, verdades e verdadaes! Este é o melhor site que Valadares já teve... sempre.

Leitor disse...

Achei a iniciativa louvável, mas acho pouco provavel que algum gay vai parar de usar droga por causa deste post. Mas o texto ficou bom mesmo, as críticas bem feitas.
Aqui em Ipatinga as coisas são um pouco piores neste sentido. Aqui o povo usa droga sem dó mesmo, a maioria dos gays. Sinceramente, ainda não entendo como as pessoas conseguem afundar nas drogas, com tanta coisas boa que a vida tem para oferecer, apesar de haverem coisas ruins também, que a gente tem que tentar vencer. Eu também já tive opotunidade de usar droga, mas não arriscaria minha paz, a paz da minha família e de todos que me amam por 15 minutos de prazer sem sentido.

Interessada disse...

Não concordo muito com o que o leitor de cima disse.
Se ninguém falar nada, as coisas não mudam.
E eu acho sim que alguém que leia isso aqui pode mudar o comportamento, porque é a mais pura verdade.
O povo acha que é só usar a droga e esquecem da sensação de prazer que ela dá, o que vicia.
E as autoridades fcham os olhos pra tudo mesmo. Um vergonha o que fazem com os gays.
Eu já usei cocaína umas duas vezes, porque tava na rodinha de amigos e um deles me pediu. Graças a Deus nunca mais usei.
Mas morri de medo de viciar depois.